As novas abordagens de reutilização de embalagens não focam somente nos produtos exibidos nas prateleiras dos supermercados, mas também nas embalagens utilizadas na cadeia logística das operações de transporte.

Uma evolução inevitável do conceito de reciclagem, a reutilização de embalagens, vem ganhando cada vez mais espaço no vocabulário internacional. Se trata de ir além da transformação de um material descartado, é sobre a continuação do uso de um produto, seja na mesma função ou não.

Ciente disso, a União Europeia (UE), um bloco econômico que reúne 27 Estados do continente europeu, divulgou em 22 novembro de 2022 o Regulamento de Embalagens e Resíduos de Embalagens (PPWR). Ele expõe metas de reutilização de embalagens que afetam diretamente a cadeia logística das mercadorias. 

O regulamento vem gerando muito debate entre os fabricantes de papelão ondulado, os mais atingidos negativamente com a determinação. E até mesmo integrantes da indústria do plástico, embora entusiasmados com a abertura de mercado, têm se questionado sobre alguns aspectos da normativa.

As novas metas de reutilização de embalagens da UE

A Comissão Europeia (CE) adotou a proposta PPWR, Regulamento de Embalagens e Resíduos de Embalagens, com o objetivo de promover a redução, reutilização e reciclagem de embalagens. Um projeto de regulamento que vem de encontro com o Plano de Ação da UE para a economia circular, já aprovado pelo Parlamento Europeu em 10 de fevereiro de 2021. 

A regulamentação vem em contramão da atenção política do momento, que se concentra somente nas embalagens dos produtos exibidos nas prateleiras dos supermercados. A nova legislação também aborda as embalagens a granel, que são usadas na cadeia logística para proteger as mercadorias contra danos durante as operações de transporte, armazenamento e manuseio. 

De acordo com a proposta da Comissão, 10% de todas as mercadorias enviadas dentro da UE terão que ser transportadas em embalagens reutilizáveis até 2030. A meta é aumentar para 50% até 2040 para comércio eletrônico, 30% para transporte e 25% para estoque.

O que dizem os fabricantes de papelão

Para os fabricantes de papelão, isso inevitavelmente significará um aumento de engradados e caixas de plástico para substituir o papelão ondulado de uso único, que atualmente é a norma em logística.

Em entrevista para o portal Euractiv, Eleni Despotou, diretora geral da Federação Europeia dos Fabricantes de Papelão Ondulado (FEFCO), comentou que a proposta da Comissão não diz explicitamente que a embalagem de plástico é melhor, mas ao apresentar metas de reutilização, eles estão de fato promovendo embalagens de origem fóssil. E ainda que todo o setor de varejo será impactado.

Somente para o setor de comércio eletrônico, isso significa que 700 milhões de novas caixas plásticas precisarão ser colocadas no mercado para substituir as embalagens de papelão ondulado até 2030, disse Despotou, referindo-se à meta de 10% de embalagens reutilizáveis no transporte. Supondo que a meta de reutilização de 2040 para o comércio eletrônico seja atingida, “isso significa que 3,5 bilhões de novas caixas plásticas serão colocadas no mercado somente em 2040”, acrescentou ela.

O que dizem os fabricantes de plástico

A indústria do plástico não nega que o aumento do reaproveitamento de embalagens pode ser uma oportunidade para o setor. Mas também aponta possíveis consequências não intencionais para a cadeia logística, como a demanda reversa de coleta de embalagens e paletes usados no esquema.

Para David Carroll, diretor de relações externas da Plastics Europe, também em entrevista para a Euractiv, no transporte, muitas das caixas de paletes já possuem modelos reutilizáveis e algumas empresas já estão fortemente engajadas no reaproveitamento. Para ele, trata-se de expandir esse modelo. 

Até 2050, cerca de um terço das embalagens plásticas poderão ser reutilizadas ou seguir novos modelos alternativos de entrega em vez do modelo de uso único atual, disse Carroll, referindo-se a um estudo independente realizado para a indústria no ano passado.

Ao mesmo tempo, ele também aponta possíveis consequências não intencionais para a cadeia logística, dizendo que os varejistas on-line, por exemplo, precisarão enviar de volta as caixas vazias a cada entrega, uma medida que provavelmente aumentará as emissões de transporte.

Posicionamento da FEFCO

Em fevereiro deste ano, a federação com sede em Bruxelas divulgou uma nota com a sua posição a respeito das intenções da Comissão Europeia. A FEFCO relatou que apoia o objetivo de reduzir os impactos ambientais negativos das embalagens e resíduos de embalagens no funcionamento do mercado interno através do Regulamento de Embalagens e Resíduos de Embalagens. Mas, ressaltou que o plano deve ser economicamente viável. E que algumas das metas de reutilização da proposta prejudicam esses objetivos e levantam preocupações sobre o futuro das embalagens sustentáveis e circulares. (Leia o posicionamento completo da FEFCO sobre o PPWR aqui).

A importância da reutilização das embalagens e o impacto para a marca e o varejo

A reutilização das embalagens é de extrema importância para promover a sustentabilidade e reduzir o impacto ambiental. Além disso, essa prática também traz benefícios significativos para os donos de marcas e para o setor varejista. Ao adotar a reutilização, as empresas podem demonstrar seu compromisso com a responsabilidade ambiental. Ou seja, aumentando a fidelidade dos consumidores e fortalecendo sua imagem de marca sustentável. Além disso, a reutilização das embalagens pode resultar em economia de custos para as empresas. E por fim, quando for produzir novas embalagens, é importante ter um programa que ajude a organizar as informações, evitando retrabalhos e desperdício de insumos!